quinta-feira, dezembro 23, 2004

Os manipuladóres 2

Os especialistas das Relações Públicas que trabalham para o primeiro ministro da Ucrânia Viktor Yanukovich podem ser pessoas completamente sem princípios, podem ser pessoas que trabalham apenas por dinheiro, podem ser pessoas que obtém a satisfação pessoal manipulando as pessoas. 

Gleb Pavlovsky, um dissidente da era soviética que serviu como consultor político do kremlin ajudando a criar e inventar a imagem do presidente putin, morreu aos 71 anos aos 26 de fevereiro de 2022.

Pavlovsky trabalhou como um dos principais conselheiros do Kremlin por 15 anos e foi amplamente visto como um dos principais arquitetos do sistema político pós-soviético da rússia. 

Foi o principal spin-doctor da rússia na Ucrânia em 2004-05, enviado pelo kremlin para garantir a victória do Viktor Yanukovych e esmagamento do movimento Maydan. Foi o criador dos principais mensagens anti-Maydan, tai como a suposta divisão dos ucranianos em pessoas da 1ª, da 2ª e da 3ª classe. Foi o autor moral da proposta de envenenamento do Viktor Yuschenko, argumentando que o povo ucraniano nunca votaria num líder cuja face subitamente será marcada por alguma doença desconhecida.
Propaganda do Partido das Regiões proposta pelo Gleb Pavlovsky

Pavlovsky foi caraterizado pelas pessoas que o conheciam como a personagem «absolutamente imoral», ou seja, que não seguia nenhum tipo de moralidade e praticava e defendia a prática de quaisquer ações desde que estas serviam aos seus propósitos.  

Autor do termo «verticalidade do poder» (sistema de gestão integrado verticalmente, uma espécie de troca de lealdade numa aliança de funcionários do estado, reformados/aposentados e oficiais do estado com os funcionários das forças de segurança: polícia, exército, FSB, etc.). Pavlovsky apostou no 2º mandato do Dmitri Medvedev e à conta disso foi afastado do Kremlin. Nos últimos anos da sua vida estava na oposição ao regime russo, o fruto da sua própria criação ideológica. 

Uma coisa eles não são, não são nada estúpidos e possuem uma escola de lavagem dos cérebros acima de média. Por exemplo, numa outra entrevista, ao jornal, habitualmente lido por Zé povinho russo – “Komsomolskaya pravda”, o politólogo e chefe do Fundo da Política Efectiva, Gleb Pavlovskiy usa uma linguagem mais popular, mais bruta, mais cínica, sem nenhum tipo de reflexões, destinados às pessoas mais cultas. 

Pergunta: Sr. Pavlovskiy, como aconteceu que os especialistas da tecnologia política russos envergonharam-se tanto com as eleições (na Ucrânia) e como consequência temos 1 milhão de manifestantes em Kiev? 
Gleb Pavlovskiy: Envergonharam-se porque? Será que Yanukovich perdeu? Ele ganhou! Desde o inicio do ano, o nível do seu apoio aumentou quatro vezes. Desde o Putin é um fenómeno. <...> Não vejo a nossa derrota. 

Mas será que é uma vitoria? 
GP: Situação é muito difícil, não tenho a certeza que Yanukovich poderá conservar o estatuto do próximo presidente, na ausência de uma posição clara e perceptível do presidente em funções, Leonid Kuchma. 

Mas porque os super consultores russos, não previram esta evolução dos acontecimentos e não propuseram maneiras de preveni-la? 
GP: Nos chamávamos a atenção da parte ucraniana sobre a preparação de tentativa de alcançar o poder da maneira inconstitucional. Mas parece, que o poder ucraniano, entendia isso como uma propaganda eleitoral. Eles também gostavam de falar sobre o cenário da Geórgia, mas não previam que este pode se tornar a realidade, não viam que este é preparado diante dos seus olhos. 

Onde o Sr. vivia em Kiev?
GP: Eu vivia no hotel. Melhor não dever nada à ninguém. 

Então você ressentiu-se e voltou à Moscovo? 
GP: Eu não me ressenti e ainda não voltei. E depois, eu acho, que o poder legítimo na Ucrânia tem todos os chances de se defender da pressão bruta. Além do que este pressão ganha cada vez a cara mais definida, que rapidamente se torna fascista. Não existe a liberdade na praça (Praça de Independência em Kiev, o coração da revolução laranja). Ali temos uma propaganda descomedida. 

Existe uma ameaça para a Rússia? 
GP: Se a Rússia deixar que acabam com a Ucrânia, não passa de um ano, nos (Rússia) vamos ver algo pior. Nos devemos defender-se à sério. A posição do Ocidente não é simplesmente irresponsável para com a Ucrânia. Eles (Ocidente) de modo geral, não se interessam tanto pela Ucrânia, quando pela Rússia. E para isso, estão prontos de sacrificar a estabilidade na Ucrânia. 

O presidente Putin ficou numa situação bastante complicada, relacionada com os acontecimentos na Ucrânia. 
GP: O nosso presidente jogou no ultimo ano na Ucrânia o jogo decididamente duro. A influencia da Rússia aumentou muitíssimo. É um factor real, confirmado até pela oposição. Eles tem medo de mexer com Putin mesmo agora. Pergunto, poderá essa influencia ser usada em situação de crise, de uma maneira correcta? <...> Geralmente, a Rússia acaba mal as partidas que começa excepcionalmente bem. 

Gleb Pavlovskiy também, deu uma entrevista à rádio moscovita “Eho Moscvi” (Eco de Moscovo). As partes mais importantes desta entrevista. 

Pergunta: O seu prognostico da situação? 
GP: Os prognósticos em tempo de revoluções é um género mais que chato. 

Então, isto apesar de tudo, é uma revolução? 
GP: Então, sim. <...> Quer dizer, ela (revolução) pode ser cortada de alguma maneira, esmagada, mas em principio, ela é um facto real. <...> Eu me lembro o ano de 1991 (fim do comunismo), isto é sem duvida, a revolução. 

E quem pode “conduzir” a situação? 
GP: As pessoas (na Ucrânia) estão fartíssimos... Mas isso não quer dizer, que Kuchma (presidente ucraniano cessante) não tem a capacidade de contra-atacar. Outra coisa – não é perceptível o motivo de contra-ataque, por quem, para quem e porquê ele (Kuchma) irá contra-atacar. Porque, claramente, não por causa de Yanukovich. 

Quem lhe pagava os salários? 
GP: Eu trabalho aqui (em Moscovo). Eu digo, os meus clientes estão aqui, em Moscovo. Para que eu quero o poder alheio? <...> Mas nos ajudamos, é claro, ao grupo dos políticos, ligados à Yanukovich, isso não é o grande segredo... 

As pessoas que estão nas ruas, quem eles são? 
GP: Pessoas, que saíram às ruas, <...> do meu ponto de vista, são pessoas reais, ninguém lhes contratou, apesar daquilo que se diz muitas vezes entre nos. <...> Pessoas – são jovens, eu próprio poderia estar entre eles. <...> As pessoas que estão em estado de fervor revolucionário, é absurdo travar as discussões com eles, eles deveriam ser tratados como pessoas fora de si. E claro, eles devem ser contidos, na medida do possível, sem recurso à violência. 

Como você acha, as eleições (na Ucrânia) foram livres, ou então foram falsificados? 
GP: Do meu ponto de vista, isto (movimento popular contra a fraude eleitoral, por uma Ucrânia livre) é um movimento semifascista, que em diante será mais fascista ainda. 

Um minutinho. As eleições foram falsificados ou não? Você reconhece estes eleições? Sim ou não? 
GP: Sim eles são falsificados nos EUA, na França, na Rússia. 

Blogueiro (em Dezembro de 2004)

Como disse no inicio deste artigo, os manipuladores, realmente dominam bastante bem as técnicas de lavagem cerebral. As técnicas anteriores falharam, mas o Yanukovych continua a servir de picareta falante do Pavlovskiy e C°. Simplesmente hoje, para fazer a propaganda eleitoral, Pavlovskiy cria novas tácticas, transformados em slogans eleitorais: 
a) Yanukovych foi traído pelo Presidente Kuchma, ele foi abandonado, ficando a mercê dos seus inimigos. Ideia: O povo tem pena dos perdedores, daqueles que lutaram por aquilo em que acreditam, mas não tiveram a sorte necessária. 
b) As pessoas simples, que pertencem a Revolução Laranja é gente credível e merecedora, simplesmente os seus lideres visíveis e seus alegados «patrões ocidentais» não prestam. Ideia: ninguém gosta de se sentir usado, isto revolta as pessoas. 
c) O Ocidente só ajuda à Ucrânia para enfraquecer a Rússia. Ideia: tentar influenciar, principalmente os eleitores mais idosos, que durante toda a sua vida foram ensinados a acreditar que o único objectivo do Ocidente é destruir a URSS, para usufruir dos seus recursos minerais e da força de trabalho. 
d) Os movimentos populares contra a fraude eleitoral e por uma Ucrânia livre, bem organizados como “Porá!” (É o tempo!), “Rázom” (Juntos) - são movimentos fascistas. Ideia: Dividir a oposição laranja, semear a desconfiança mútua, para tentar aproveitar ao seu favor qualquer que seja o número de votos da base de apoio laranja.

Blogueiro (em março de 2022)

Como podemos ver, as técnicas de propaganda russa pouco evoluíram nestes 19 anos, quando se trata dos discursos sobre Ucrânia ou 2º Maydan, a Revolução da Dignidade de 2013-14:

a) Alegada legitimidade do Yanukovych vs gorpe de Estado (uma das últimas postagens do Elon Musk);
b) Os ucranianos são boa gente, Ocidente/EUA os enganou; a liderança ucraniana é má e influenciada pelos «nazis» (a posição assumida pelo PCP e outros extremistas da esquerda); 
c) Ocidente que «só quer enfraquecer a rússia»;
d) Os ucranianos são boa gente, a culpa é do «Azov», dos «nacionalistas», etc.

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